segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Um dia como outro qualquer, com excepção de ser hoje
Hoje sou carne e osso; hoje, não consigo fingir...
Morto para a vida, renascida a dor, peso de existir...
Todo o mundo me dói, toda a gente se corrói...

A vida pesa-me... arrasta-me para a existência,
Onde existe esta própria subjectiva experiência:
Uma emoção, feita sentimento, reflectido na razão
Emocional da mente, minha refém, minha prisão...

Prisão, refúgio, inferno ou paraíso, catharsis?
São apenas as estações principais do comboio
Da mente, que faz viagens ora num sentido
Ora noutro. Necessárias, mas nem sempre ideais.

Este comboio, que mais parece montanha russa
Na qual anda o meu espírito, humor: sobe e desce...
Anda ás voltas e volta sempre a esta tristeza,
Grito das palavras desenhadas a silêncio, a sangue

De que jorra a revolta, o alerta, o desabafo,
A mudez que não se cala nem consente
Tal cegueira, tal conjunto de almas ausente
Obcecado com um agora passado presente.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

De dominação a dominó

Ler um bom livro faz mesmo bem... Já quase não me lembrava, de tanto que por vezes a leitura se torna de tal modo uma certa obrigação, ainda para mais quando é uma obrigação para avaliação quem nem sempre corre como o desejado... 

Seja como for, o certo é que esse prazer em ler está de volta, e em boa hora. Esta leitura têm-me feito pensar, reflectir quase sem querer, por intermédio de uns flashes que me surgem. E é isso que aqui vim partillhar, um desses que me surgiu mesmo á pouco. Entre a complexidade do pensamento que se abateu, aquilo que reflecti, e aquelas palavras que consegui traduzir, e as frases que consegui montar qual puzzle, surgiu o seguinte: 

O animal (sobre) vive lutando ou fugindo, seguindo os seus instintos. O verdadeiro Homem, ser sábio e social deverá ter aprendido que se conseguir ter uma atitude de paz, serenidade, afastando os seus instintos de luta e disputa poderá viver verdadeiramente em paz. E esta atitude será contagiosa, sendo entre os seus meios de contágio um deles é tão simplesmente: não julgar, aceitando outro. 

Pois, da minha perspectiva, por vezes nós, seres humanos não damos bem por onde andamos, quem e o que pisamos, nem que objectivos seguimos afinal. Para mim, parece-me que andam todos mais preocupados, como animais psicologicamente territoriais em disputar por um território, numa obsessão neurótica, que não me parece que a maioria saiba afinal que ganharão com esse território que só existe nas suas mentes.

E toda a disputa começa com a suposta existência de diferenças, e semelhanças. Semelhanças nos descontrolo das próprias mentes: deixando que a parte primitiva da mente dite as atitudes sociais. Muitos instintos que essa parte primitiva faz disparar sobre a consciência são na realidade completamente desajustados na vida social, ou na realidade social da vida, digamos. 
As diferenças surgem porque todos nos julgamos uns aos outros. Mais uma função da mente primitiva: julgar todas as situações e indivíduos, classificando-os como bons ou maus. Potencialmente ameaçadores ou inofensivos. Distinção básica para sobrevivência... Na selva!

De um ponto de vista humano e social, este julgamento para com outro indivíduo, apesar de poder (e ser normal de) existir, deve ser atirado para as profundezas da mente tão escuras quanto da qual este próprio surgiu, pois é neste simples mecanismo e subsequente acto humano de aceitar o outro que surge a maior dimensão de vida em sociedade que pode existir. E a verdade é que acredito que ao fazermos sentir alguém aceite, este também baixará a guarda do julgar e competir, lutar, e fará mais facilmente outrem sentir aceitação também, e assim por diante. Acredito neste efeito dominó...

domingo, 17 de outubro de 2010

Um gesto... Tão social quanto mecânico:
Última passa numa beata, ao chão atirada,
Pisada ao mesmo tempo que se espele o fumo
Num sopro degustado, atirado ao ar e prolongado..

Um ajeitar de casaco, por cima dos ombros,
De braço por cima da companheira, esgar:
Olhar depreciativo para um daqueles pobres diabos
Vai num monólogo a dois dentro de si, sem terminar.

Continuo a caminhar e olho o chão...
E sinto as pedras do calçado personificadas em ti:
Coimbra, que tanto de ti, de mim enfim, fugi...
Como te sempre no fundo entendi, qual irmão...

Tuas pedras sobre as quais ando a passo certo
Bem devem amaldiçoar seu destino, cretino
Não desejariam antes ser belos e esbeltos monumentos?
Ainda assim... Levam-me até eles e a estes momentos!

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Eu irrito, tu idolatras, ele idolatra...

O fenómeno da adoração a outros seres humanos como que se de Deuses se tratassem é algo que a mim me faz muita confusão. O fenómeno do ser fã, de ter posteres no quarto, de contar os cêntimos para pagar balúrdios por um momento em que vêm essa pessoa ou conjunto de pessoas, falo por exemplo de um concerto.

É verdade que bem se pode dizer por esta altura que tudo me faz confusão nesta vida, porque e quando olho para ela quase como se de um observador de outro planeta... Por isso imagino que quem muito gosta de idolatrar bandas, personalidades possa ficar escandalizado com a minha observação. Não fique, não é preciso... Se ficar paciência, tá na hora de mudar de blog...
Porque é que este fenómeno de idolatração acontece? 
Da forma como vejo, pode ter a ver com principalmente 2 coisas: primeiro, porque trás à pessoa um sentimento de identificação com o idolatrado e com o grupo de pessoas que idolatra o mesmo (É tão bom sentir que alguém pensa, sente ou passa por fenómenos semelhantes aos que passamos). Em segundo lugar, quando dizia que estes idolatrados são vistos como Deuses, estava a falar mais a sério do que possa parecer. A religião existe porque o ser humano tem uma necessidade intrínseca de sentir-se protegido, acompanhado, sentir que há algo maior que possa amparar a sua existência. E a meu ver, idolatrar alguém pode funcionar como acreditar em um qualquer Deus.
O idolatrado está contigo na rua, quando ouves o teu mp3; diz-te aquilo que queres ouvir, ou pronuncia palavras que associas a sentimentos que reconheces... E até naquele concerto em que foste grita por um país, uma cidade que (re)conheces, fala até algo como "obrigado" na tua língua! Quanta honra...

Pensando bem, o que me irrita mesmo é o investimento a nível de recursos psíquicos que é feito em algo que existe apenas como base para uma imagem que é resultado da construção mental, da imaginação.  Dizendo por outras palavras que o que as pessoas vêm no idolatrado é algodão doce (construção mental da imaginação) enquanto que o que existe mesmo e apenas um simples palito no qual se projectou todo o algodão doce. 
Irrita-me tudo isto, porque muitas das vezes não damos o devido valor, e respeito ás pessoas "normais" (não estrelas de rock) que fazem parte do quotidiano "real", sem as luzes, o palco, a maquilhagem, adereços e altos decibéis. 
Mas também não me admiro por irritar muita gente por pensar, por pôr em questão as realidades de cada um, a minha própria inclusive... Mas...

Mas só estou em paz criando o caos (mental)...